segunda-feira, 19 de maio de 2014

C20 - Divergente

eu nem sabia que Jogos Vorazes era uma franquia de livros quando vi o primeiro filme, e me arrependi loucamente de não os ter lido antes (não vou entrar no mérito da adaptação, mas eu ia querer ter vivido as twists da história com a profundidade que o livro me proporcionou).

por isso, quando vi o "trelho" de Divergente (que achei péssimo, por sinal), meio que me obriguei a ler os livros antes de ver qualquer coisa -- eu não queria que me roubassem a emoção do livro, e eu estava certa.

voltando ao trailer: incrível como passa uma imagem que não condiz com a história... mas não vou entrar na polêmica spoiler zone por isso.

sobre o filme, tirando umas coisinhas absolutamente desnecessárias [como a alteração do encontro com a mãe dela e a forma como a erudição foi parada], foi uma boa adaptação.

sobre o cinema, que bagaceira! muitas cocotas juvenis suspirando audível e compreensivelmente toda vez que o Theo James aparecia (não posso julgar os suspiros delas, eu estava no coro, mas os meus não eram uma crise de asma!), e as três cunhãs que sentaram atrás de mim eram de uma categoria à parte!

primeiro, acho que elas levaram um galeto pra sala de exibição, dentro de uma marmita de alumínio. passaram a sessão inteira afofando a embalagem, eu quase que pacificamente me virei e dei um calmo tabefe na cara delas...

mas o pior foi uma súbita catinga de cheetoos bola que subiu no cinema... quando eu olhei para o lado, a cutruca mais zuadenta e gasguita tinha impindurado os pés na cadeira ao meu lado, e a fragrância maravilhosa se espalhou pela sala! me arrependi de não ter vick vaporub na bolsa, ou mesmo um desodorante pra tacar na criatura!

apesar destas intempéries, foi um filme muito divertido, especialmente por ter ido com a Bruna, que está comigo na luta para criarmos um movimento pró-clonagem humana pra ontem: todas quer Theo James!

eu poderia, finalmente, citar mil motivos para assistirem a Divergente, mas cito apenas Quatro:

bons são meus tios, que me dão dinheiro; Theo James é ÓTIMO!

terça-feira, 13 de maio de 2014

C19 - Amante a Domicílio (sic)

este é daqueles filmes que me chamam levemente a atenção, mas não o suficiente para atravessar a cidade para vê-lo, a não ser que valha a pena, e a rara companhia nas telonas valeu o sábado :)

com um título em português pavoroso e dono de desilusão ortográfico-amorosa, Fading Gigolo tem como chamada "a profissão mais velha ficou ainda mais velha" (livre tradução).

Woody Allen, neurótico como sempre (talvez até um pouco mais), interpreta Murray, um dono de livraria de exemplares raros que entrou em falência.

em conversa com o seu ex-ajudante no trabalho e amigo Fioravante (John Turturro), ele conta que a sua dermatologista lhe contou que queria muito fazer um ménage (!!!), mas que precisava de um homem para se juntar a ela e uma amiga.

Murray declinou do convite (hahaha) com o humor depreciativo característico, mas disse que conhecia alguém que poderia ajudá-las, e propôs ao amigo que entrasse no esquema, por mil dólares a hora.

depois de muito relutar, afirmando que nem bonito era, e que não queria se prostituir, Fioravante foi convencido e se encontrou com a dermatologista (Sharon Stone, que está lindíssima, aquela égua!), para um "test drive".

a partir de então, Fior acumula o seu trabalho em uma floricultura com a vida de amante em domicílio.

trata-se de um filme reto, com poucas reviravoltas, mas gostoso (uuuui!) de se ver, pela loucura de Allen e dos outros personagens.

e foi nesse filme que eu percebi que, a minha vida inteira, eu nunca soube que o John Turturro não era o Michael Richards (que fez o Cosmo Kramer, em Seinfeld, e o Assassino da Gravata Borboleta, em O Pestinha)!

pena que eu só tive consciência disso depois de imaginá-lo fazendo os trejeitos do Kramer, durante a sua jornada dupla! ;)

segunda-feira, 12 de maio de 2014

C18 - Lunchbox

Lunchbox é um filme indiano sobre pessoas presas ao seu próprio cotidiano, onde, muitas vezes, não percebem que a chave do cadeado está na sua mão (pode parecer plot de autoajuda, mas não é mesmo!).

o filme começa apresentando a rotina de duas pessoas: a primeira delas é Ila, mãe, dona de casa e esposa, que, após enviar a filha para a escola, prepara com esmero o almoço para o marido, e o envia por um senhorzinho de bicicleta, por um longo e tenebroso percurso em meio a ruas caóticas, trens e riquixás.

o segundo personagem é o Sr. Fernandez (apesar de ser a cara do Professor Girafales -- não fique com ciúmes, Ricardo Darín! --, não é latino), viúvo, solitário e contador.

é ele quem recebe a marmita que Ila mandou. Fernandez destampa as cumbucas e, quando o cheiro sobe, ele fica com aquela cara do Anton Ego comendo ratatouille, no filme homônimo.

Ila recebe de volta a marmita, assombrada por ela ter sido completamente devorada e praticamente lambida de cima a baixo. quando o seu marido chega, ela não compreende por que ele não faz nenhuma referência à comida, e percebe que a sua marmita foi enviada para a pessoa errada.

ela resolve, então, mandar um bilhete para quem a recebeu e, a partir de então, de uma maneira só deles, estas duas pessoas tão diferentes e tão sozinhas começam a se comunicar.

é de uma delicadeza rara nas telas a maneira como eles se aproximam e começam a mudar a vida um do outro.

e, mesmo sem a dancinha no final da maioria dos filmes indianos (perdão pelo spoiler!), que filme lindo!

C17 - O Palácio Francês

com um breve intervalo após o filme anterior, fui para o segundo do dia. não sei por que, mas eu sempre me espanto com a sala lotada, geralmente por pessoas mais velhas, no cinema mais alternativinho de brasólia (o liberty small).

mal sentei e o filme começou, me causando uma certa confusão para entender o que se passava. Arthur, recém formado, estava sendo entrevistado pelo Ministro de Relações Exteriores francês, que era, para dizer o mínimo, um pouco descompensado.

Arthur foi trabalhar diretamente na equipe de assessoria do Ministro (que lembrava terrivelmente o Comandante Lassard, do Loucademia de Polícia), escrevendo os seus discursos.

enquanto Arthur era demandado com coisas absolutamente estapafúrdias, o cinema inteiro caía na gargalhada, mas só me dava vontade de chorar!

depois de vir de 357 estágios onde os chefes eram completamente insanos (uma vez "sugeriram" que eu me vestisse de coelho, na páscoa, só para que tenham noção!), hoje trabalho no executivo federal e, muitas vezes, presencio esse tipo de coisa.

não me dá nenhum alívio saber que não sou só eu e os meus amigos que passamos por perrengues semelhantes, pelo contrário: se fosse só com a gente, era mais fácil de se erradicar esse tipo de coisa!

do meio pra frente eu consegui me desvencilhar do objeto, e rir junto dos demais (apesar de uma parte de mim se manter chorando por dentro)... é um bom filme, mas seu roteiro me foi muito doloroso, para ter, mesmo, valido a pena.

tomando como base o ditado "quem bate, nunca lembra, mas quem apanha, não esquece!", acho que já apanhei demais, nessa vida.

C16 - 7 Caixas

depois de mais de mais de um mês de jejum de cinema, voltei às telas com 7 Caixas, paraguaio, cujas únicas informações que eu tinha eram o trailer frenético e a alcunha de "Cidade de Deus paraguaio", seja lá o que isso significasse.

Víctor, um garoto pobre e que sonha em estar na tv, trabalha como carregador de compras em um feira. quando a irmã lhe mostra um celular que filma (um nokia de 1900 e bolinha), ele resolve conseguir uma grana para comprá-lo.

com um roteiro cheio de reviravoltas, ambientado no meio de muita cor, barulho e pobreza, o filme é, como o trailer o havia antecipado, frenético.

não vou me perder em palavras tentando descrever o misto de claustrofobia e de taquicardia que 7 Caixas me despertou, pois essa é uma experiência que merece ser vivida.

ele conseguiu unir várias ideias simples de uma maneira inusitada, abusando da dicotomia brutalidade/doçura. sem dúvida alguma, um dos melhores filmes que vi esse ano!

sexta-feira, 9 de maio de 2014

L10, 11 e 12 - Trilogia Divergente

ainda não me recuperei destes livros. fazia muito tempo que isso não acontecia, inclusive. a loucura é tanta que nem vou tentar organizar as ideias de forma muito cronológica, porque sei que não conseguirei.
comecei os livros na penúltima quarta de abril, e os terminei na terça seguinte, com um final de semana em Fortaleza no meio. foram os primeiros livros que resolvi pegar, depois de ter ficado tanto tempo em função do último concurso (onde ganhei experiência e raiva, mas assim é a vida).

naturalmente, o tema me atrai muito, sou aficionada por distopias. acredito que, entre a realidade e a ficção há uma linha, tênue e difícil de se estabelecer, onde elas, as distopias, moram. e precisam ser críveis, independente de quão fantásticas sejam.

o primeiro livro, Divergente, me apresentou a um mundo dividido em 5 facções (Abnegação, Amizade, Audácia, Erudição e Franqueza), cada uma delas com um papel fundamental e diferente para o (bom) andamento do mundo.

admito que achei o plot meio fraco, mas devorei o primeiro livro absurdamente rápido, curiosa e desconfiada. também admito que depois de algumas experiências meio traumáticas relativamente recentes, fiquei com receio de que a autora não desse conta do que havia se proposto.

comecei o segundo livro nessa vibe de "não quero me apaixonar", mas já tava arriada os 4 pneus e o estepe (eu sou uma viadinha, sei disso)!

um ponto recorrente na história de Tris, narrada por ela mesma e com a sua visão de mundo, é o questionamento constante sobre as suas próprias escolhas e seus medos. e, ainda que pareça uma temática de terapia, a relação da protagonista com os seus medos pode soar comum, mas, nesta história, ela é bem mais aprofundada.

eu estava no avião, sem conseguir desligar o kobo um segundo, quando começou uma turbulência from hell. o cara que tava na minha frente começou a se benzer, uma senhora do outro lado começou a audivelmente rezar, e, no meio de toda uma discussão no livro sobre medos (legítimos ou não) e como enfrentá-los (ou conviver com eles), eu quase quebrei.

não que eu tenha medo de avião, mas minha mãe tem. e essa era uma das raríssimas viagens em que estávamos no mesmo voo, ambas indo pra terrinha, para o aniversário do meu sobrinho. ela estava na parte da frente do avião, e eu no fundão, como de praxe.

me deu uma vontade de me levantar e de ir até ela, pra que ela não se apavorasse, mas o que eu podia fazer? e o que eu podia fazer para tranquilizá-la, se eu já estava ficando também com medo? crianças choravam alto, a mulher voltava à sua novena, e o voo ainda demorou para se estabilizar, ainda com turbulências eventuais.

nesse momento, 357 epifanias pularam na minha cabeça, e eu fiquei pensando no que podia fazer, caso me fosse dada a oportunidade de sobreviver àquele voo. hoje, duas semanas depois, posso parafrasear Parmênides e dizer que nem era o mesmo céu e nem eu a mesma mulher, a voltar dois dias depois.

quando finalmente descemos, fui falar com a minha mãe, saber como ela havia passado por toda aquela celeuma, e ela me devolve: "que turbulência? que horas? não vi nada, dormi o voo inteiro!"... eu morrendo por dentro e ela nem aí? peloamorde!

voltando ao livro, não consegui parar de lê-lo, mesmo estando só o resto. terminei o segundo no sábado, mas só pude ler o terceiro como deveria quando voltei pra brasólia.

devorei o último livro com ainda mais desconfiança, porque eu já sabia que a autora não daria ponto sem nó. apesar de, em alguns momentos, achar que o livro tinha se reduzido a "too much snogging", percebe-se que não há palavras desperdiçadas.

então o livro acabou e eu me senti irremediavelmente despedaçada, como há muito não me sentia. feliz, por ter passado por toda aquela história com personagens que eu conheci melhor até do que conheço algumas pessoas da minha família, mas com um vazio de saudades.

vou tentar ver o filme em breve, para ver se me ajuda a superar esta separação (aloka!)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

L09 - Doroteia

fazia muito tempo que eu não lia uma peça, e essa do Nelson Rodrigues pulou na minha cabeça. já de cara vi que estava diante de algo fora do imaginário conhecido rodrigueano, pois não há nenhum personagem masculino em cena (apesar de haver citações a homens).

Doroteia bate à porta das primas ("acho lindo ter parente!"), pedindo asilo e ajuda. a casa é habitada por 3 viúvas e a filha de uma delas. todas muito pudicas, trajando vestes longas negras, orgulhosas de serem mulheres de bem e acima das tentações mundanas.

as senhoras a recebem mal, pois tinham duas primas chamadas Doroteia: uma, morreu afogada; a outra, perdeu-se na vida e nos homens. qualquer uma das duas que batesse à porta não seria bem-vinda.

as mulheres da família têm uma espécie de maldição: elas não podem ver homens, mesmo que eles as carreguem nos braços. e todas elas precisam se manter puras até o casamento, para terem uma "náusea" nas núpcias (outra nefasta tradição familiar), caso contrário, elas nunca poderão morrer (a não ser que se suicidassem, mas isso também não era aceito)

quando Doroteia assume que é a que virou puta (extremamente arrependida), as primas afirmam que preferiam que fosse a que tinha morrido (suicidou-se porque não podia suportar que, por debaixo de toda a pureza das suas roupas pesadas, houvesse um corpo nu, capaz de pecar).

Doroteia assume o que fez, pois, aparentemente, ela podia ver os homens e nunca teve a tal náusea. mas ela tinha tido um filho, que morrera com poucos meses, e, pela memória dele, não queria se envolver com homens nunca mais. porém, sabia que a carne era fraca, e apenas se tornando uma delas, poderia se afastar das tentações.

é uma peça cheia de simbologias e sutilezas, o que também me remete à capa do livro, uma obra de Mondrian. talvez apenas a geometria possa explicar o que as palavras não conseguem... a perfeição das linhas e os tamanhos diversos arrumados em paralelo unem-se em um quebra-cabeças belo, mas sem sentido.

na história, o homem é representado por um par de botinas desabotoadas (quase o equivalente a tomou banho de sunga branca!, de safadeza) e na casa "todos os quartos morreram e só as salas vivem!" -- as primas não dormiam, pois podiam sonhar com algo pecaminoso.

as primas afastam Doroteia, acusando-a de ser bonita demais para ser uma mulher direita: "teu hálito é bom demais para uma mulher honesta!" ou "espinha em mulher é bom sinal! não acredito em mulher de pele boa!".

e então começa a saga de Doroteia para se tornar uma mulher digna e feia. D. Flávia, a prima mais ferrenha, indica-lhe que se encontre com Nepomuceno, um homem atormentado (que foi muito gentil com ela), para lhe pedir chagas que cobrissem o rosto e o corpo. fica na imaginação do leitor que pedaço de alma (ou de corpo) ela teve que dar para ter o desejo atendido.

é muito interessante ver, ainda que Nelson Rodrigues tenha escrito tudo ao contrário, a busca pelo padrões de beleza (onde é belo ser horrendo, pois denota caráter): a busca para que a embalagem seja mais agradável aos olhos, geralmente melhor do que o próprio conteúdo.

atual e visceral, Doroteia mostra a necessidade de se anular para ser aceita (e para se aceitar).

quarta-feira, 9 de abril de 2014

L08 - Orgulho e Preconceito

sei que sou uma viadinha que gosta de histórias de amor, mas também gosto ainda mais de ter a minha inteligência respeitada, e eis o motivo por eu adorar Orgulho e Preconceito.

o filme eu já devo ter visto trocentas vezes, graças à tv por assinatura, que o reprisa ad infinitum, e ao maravilhoso Mr. Darcy (aaaaaaaaai, papaaaaai!).

mas hoje eu vim falar do livro, publicado no começo do século 19, por Jane Austen (que o havia escrito aos 20 anos).

foi um exercício interessantíssimo ler as ideias de uma mulher tão jovem, escritas em uma época em que mulheres eram "feitas" para se tornarem esposas, mães, mas nunca para exercerem atividades tidas, à época, como exclusivamente masculinas, como a produção literária.

[digressão]
me lembrei agora da defesa que uma colega fez na faculdade, explicando que as revistas femininas tinham menos páginas de matérias (e mais propagandas) porque eram voltadas para mulheres intelectualmente ativas (sic), que podiam lê-las mais rápido (!!!)
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voltando à trama, a protagonista, Elizabeth (Lizzy) Bennet é a segunda de cinco irmãs, não é ingênua como a primogênita, nem deslumbrada e fútil como as duas mais novas. Lizzy é crítica, espirituosa e leal à própria família, apesar de ter consciência de que a mãe é uma completa desmiolada e o pai é omisso.

a rotina da cidade onde moram muda com a chegada de um cavalheiro rico com a sua família, Mr. Bingley, e de seu amigo, Mr. Darcy (ainda mais rico). a partir de então, Darcy e Lizzy se encontram e se reencontram, meio a equívocos e gestalts forçadamente fechadas, onde talvez a moral da história seja "cuidado com julgamentos precipitados".

a escrita em alguns pontos é meio confusa, mas a essência não se perde: por baixo da relação entre os dois, há critica, muitas vezes mordaz, sobre o estilo da sociedade naquela época e seus valores.

pela boca da personagem, a autora questiona a instituição do casamento, a relação entre irmãos, os direitos que os mais velhos (e abastados) julgavam ter para decidir a vida dos que estavam ao seu redor e que deles, de alguma forma, dependiam...

mas o que mais me chamou a atenção foram os momentos em que as irmãs ficaram extremamente surpresas que um dos personagens, tido por elas como muito bonito e educado, pudesse ser mau-caráter (para elas, era inconcebível que uma bela figura não tivesse sentimentos e ações igualmente belos).

esse tipo de nuance se perde no filme, que dá um enfoque bem maior ao romance propriamente dito do que à construção e desconstrução dos protagonistas.

mas continuarei a ver o filme sempre que tiver que precisar esperar para ganhar mais vidas no candy crush, por motivos de quem nunca?:

status: vim a óbito!

segunda-feira, 31 de março de 2014

C15 - Tudo por Justiça

o plano original para o sábado era vermos um dos filmes que estão em cartaz da mostra Panorama de Cinema de Burkina Faso, no ccbb de brasólia, mas houve um evento no mesmo dia, e não conseguimos atravessar o mar de carros para termos esta experiência maravilhosa.

diante da negativa do universo, e, entre as poucas opções em cartaz (excetuando o que já havíamos visto, óbvio), escolhemos Tudo por Justiça, produzido pelo Leonardo DiCaprio e pelo Riddley Scott e protagonizado pelo Christian Bale.

admito que ainda tenho problemas com o Christian Bale, desde que ele fez o Batman mastigando carrapicho, mas curti muito a atuação dele no Trapaça para deixar de ir ao cinema por causa dele...

voltando ao filme: meldels, é péssimo! é quase uma versão masculina dos romances da Danielle Steel, onde o protagonista sofre, sooofre, soooooofre, mas continua acreditando no papai noel e no coelhinho da páscoa.

o cara é super correto, mas é preso, semicurrado, abandonado pela namorada pelo Forest Whitaker (!!!), o pai morre enquanto ele tá na prisão e o irmão, veterano de guerra, surta. ainda assim, o caráter do personagem de Bale (Russell Baze) não oscila um milímetro.

quando o irmão se envolve com um povo barra pesada, ele resolve assumir o título em português do filme, mas o seu temperamento trabalhadíssimo na inércia estática o impede de fazer algo além do pouco que ele faz na vida, que é respirar e eventualmente se mexer.

depois de muito divagar sobre a garyoldmanização do Christian Bale, de pedir a deus um controle remoto para passar logo para o final, e de presenciar um povo batendo boca (acho que falavam de futebol, whatever), o filme começou a parecer, pra mim e pro mofi, uma citação d'O Processo (Kafka, adaptado por Orson Welles).

garyoldmanização de Christian Bale
em O Processo, Josef K. passa o filme inteiro fugindo (não sabe do quê, mas está sendo acusado de algo) e clamando pela sua inocência. em um final construído com elementos semelhantes, aquele que passou o filme inteiro na inocência finalmente se torna culpado. e o filme acaba, quando deveria, de fato, começar.

de todos os que eu vi no cinema em 2014, este foi o pior, com louvor. quem sabe, se se chamasse Tudo por um Shampoo sem Resíduos, fosse melhor.

C14 - Prenda-me (Arretez Moi)

era sexta-feira e nessa brenha chamada brasólia não estreou quase nada: os filmes que estão em cartaz ou são uó ou estão em horários ainda pEores. mas é claro que há filmes bons (ainda não assistidos), grazadeus!

pela sinopse maravilhosa (mulher resolve ir à delegacia se entregar como assassina do marido, que já havia morrido à quase 10 anos e que a polícia havia concluído que se tratava de suicídio), resolvemos (mofi e eu) ver o Arretez Moi no Liberty Small (hipocorístico dado pelo @philosopop, que levei para a vida).

trata-se de um filme de diálogos fortes, acompanhados pelas primorosas atuações de Sophie Marceau como "a mulher que matou o marido" e Miou-Miou como a policial truculenta e que se nega a prender a "assassina".

a trama fala da violência e dos seus efeitos secundários, como o medo de quem é vítima, os abusos constantes, a violência mental tão ou mais dolorosa que a física, os filhos presenciando o comportamento e, muitas vezes, repetindo-o...

é um filme que faz com que nos questionemos em vários aspectos, inclusive sobre os julgamentos que fazemos às vítimas do abuso, como "por que ela não denunciou antes?" ou "quem se submete a esse tipo de coisa?"...

e é interessantíssimo perceber que, às vezes, há mais liberdade em estar fisicamente preso do que poder ir e vir, mas sempre acompanhado de demônios e culpa.