sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

C10 - Clube de Compras Dallas

fui assistir a este filme extremamente curiosa, especialmente pela boa crítica recebida pelo Matthew McConaughey, como ator principal -- admito ter um certo preconceito com ele, por conta das suas escolhas exóticas de papéis, mas tenho muito carinho pelas suas participações em Tempo de Matar, Contato e EdTV.

mexem muito comigo filmes que tratam de se estar consciente de que se tem os dias contados, principalmente porque é algo que eu não faço ideia de como reagiria, se fosse comigo.

Ron (personagem de Matthew) descobriu que estava com AIDS (a doença já havia se manifestado) em 1985, época em que era considerada uma espécie de "peste gay".

Ron, texano, hétero e homofóbico, usou 1 dos 30 dias que o médico que o diagnosticou lhe deu de vida em negação. os outros ele usou para lutar, não aceitando seu vaticínio com resignação. e foi assim que ele pulou do alto do penhasco metafórico, rumo ao tempestuoso mar azul escuro, que o aguardava, impaciente.

durante a exibição, vieram-me à memória algumas tentativas da TV de prestar informações sobre a AIDS, nos anos 80. eu devia ter uns 10 anos (1988) quando uma das sitcoms populares na época (não me lembro do nome, mas acho que foi na finada Manchete) recebeu uma "visita" de um personagem soropositivo. tentaram mostrar que não havia risco de contágio por mero contato, mas tudo o que o Midas tocava ou era isolado ou era jogado fora... quanta desinformação! e quão desesperador deve ter sido para os que foram diagnosticados nesta época, onde o medo talvez fosse tão ou mais nocivo do que a própria doença!

e não dá para não trazer a temática para a vida real: conheci um rapaz que, da data do diagnóstico até ele sucumbir foram cerca de 30 dias. os amigos próximos disseram que ele não conseguiu lidar com a notícia e que "perdeu a vontade de viver".

por outro lado, trabalhei com uma menina linda e super alegre, que um dia me contou a sua história (que eu nem desconfiava): estava grávida do 2º filho quando o marido foi hospitalizado com meningite. o médico a chamou de lado, explicou-lhe que aquele tipo da doença acometia geralmente pessoas com a imunidade baixa, e ela se apavorou. fez o teste, deu positivo, começou o tratamento e o bebê nasceu sem o vírus. e o marido não sobreviveu àquela internação. da última vez que nos vimos, ela estava noiva de um cara maravilhoso, que precisou de muita paciência e persistência, para convencê-la de que a amava do jeito que ela era.

talvez por conta dessas e de tantas outras histórias, emociono-me muito com quem não se rende, com quem pode até aceitar o destino que aparece nas cartas, mas o caminho até lá é feito nos seus termos.

no caso de Ron, não se render também significou reaprender a viver. neste processo, o tipo truculento, preconceituoso e egoísta começou a perceber a existência e os problemas de outras pessoas, dando à sua vida (e à dos outros) sentido.

menção honrosa para as interpretações do Matthew McConaughey e do Jared Leto, prováveis ganhadores do Oscar de Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante, respectivamente.

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