quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

C09 - Eu e Você

domingo passado resolvi aproveitar a hora que ganhei com o fim do demoníaco horário de verão no cinema, e fui ver o último filme do Bertolucci.

o filme conta a história de Lorenzo, de 14 anos, e que, como a maioria nessa idade, é todo arrogância e espinhas. além disso, ele é muito estranho, mimado e metódico.

Lorenzo resolveu pegar o dinheiro que pagaria à escola para passar uma semana esquiando, comprou comida (7 provisões iguais, este menino é virginiano) e começou a levar os seus víveres para o porão do prédio onde mora (onde quase ninguém vai, e que ele tirou uma cópia da chave).

para não ficar totalmente sozinho, ele levou uma colônia de formigas como companhia (nessa hora, sobe a trilha dos violinos do Chaves, com o tema de E O Vento Levou).

após um dia inteiro de sorridente solidão e de contraditória liberdade (enclausurado, mas sem limites e sem ordens), chega a sua meia irmã (filhos do mesmo pai), Olívia, como um furacão de vida naquele cubículo, e finalmente o filme começou, pra mim.

ela é fascinante, aos olhos dele e aos de quem a assiste: quase um caleidoscópio, feita de efêmeros cacos de vidro, que, a cada ângulo de luz, assume formatos avassaladores.

e é da relação deles (ambos escondidos, durante a semana sabática de Lorenzo) que o filme se desenvolve.

a trilha sonora é um personagem à parte, especialmente por Space Oddity: a original, do David Bowie, e a versão italiana de Mogol, de uma poesia de arrepiar (essa música mexe comigo de uma maneira que nem sei explicar... um dia ainda consigo colocar em palavras tudo o que ela me desperta...)!

outro ponto interessante a ser ressaltado, é que Bertolucci não se preocupou em explicar a razão de Lorenzo ser chatíssimo, e isso é maravilhoso! não há moralização do que se é ou do que se devia ser, há "apenas" o recorte daquele tempo compartilhado com a irmã, que talvez os marquem para sempre!

nem tudo precisa de explicação. nem sempre há algum segredo/trauma/motivo.

e há épocas em que estamos impróprios para o consumo humano. ponto final.


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