sou aficionada por distopias (futuros sombrios, porém possíveis) e, ainda que Ela possa ser considerada uma distopia sutil (por não conter fortemente governos autoritários), a opressão tecnológica e social está bastante presente.
Theodore é um cara solitário. recém-divorciado, ele evita o contato humano durante quase toda a sua rotina de ida e volta do trabalho. salvo um casal amigo e o recepcionista do trabalho, ele praticamente não conversa com ninguém.
de início, pode parecer que ele é mais um dos muitos misantropos que apareceram nos últimos filmes que vi, mas Theodore quer ter alguém (talvez por isso ele não consiga superar o fim do seu casamento e relute tanto em assinar o divórcio), só é tímido e desajeitado demais para sair do casulo.
um dia, voltando do trabalho, ele vê que lançaram um novo sistema operacional (quase um tamagotchi que conversa com o dono) e resolve comprar um. e é assim que Theodore conhece "Samantha" (voz da Scarlett Johansson), o sistema formulado para ele, após responder a algumas perguntas.
o sistema começa a evoluir enquanto conversa com ele, e acabam ficando íntimos -- íntimos MESMO! --, ao ponto de Theodore assumir publicamente que está em um relacionamento (sexual, inclusive) com Samantha, e de levá-la a um double date (o outro casal era de 2 pessoas).
o que mexeu comigo foi ver que muitas pessoas começaram a se relacionar desta forma, tudo visto com muita naturalidade, por grande parte da sociedade. me apavora ter a consciência de que estamos nos encaminhando para isso. enquanto muitos passavam nas ruas, conversando animadamente com os seus sistemas operacionais, eu só me lembrava da imagem abaixo:
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"flagrada pessoa observando o mundo" |
talvez esse filme tenha sido o estopim para me fazer ver o que há muito já era óbvio e recorrente, mas que eu ainda não havia tomado consciência: não consigo mais conviver com o facebook -- ele me toma tempo demais e me dá retorno de menos.
o que me manteve na rede, por muito tempo, foi o contato com algumas pessoas em especial, apenas por lá. mas finalmente entendi que isso foi uma desculpa para me manter preguiçosamente onde estava. amizade não depende disso (se depender, não é amizade). vou tentar fazer uso de novas tecnologias, como telefone ou até encontro presencial -- espero que funcione!
ou seja: vou experimentar dar um ou dois passos pra trás, pra tentar me encontrar -- ou me perder de vez :P