diferentemente do que ocorreu no 1º volume, que eu não tinha me decidido se ia querer ver mesmo o filme (minha relação com o Lars Von Trier é, no mínimo, controversa), neste fui logo no dia da estreia (da outra vez eu já havia lido muito spoilers, quis evitar a fadiga!).
dessa vez, não teve como passar despercebido que a versão brasileira tem mutilações -- em alguns momentos a dinâmica do filme se fragmenta de forma pouco condizente com a narrativa.
mas, apesar desses poréns, gostei muito do 2º volume (apesar de ter achado a primeira parte mais instigadora). sei que a história tinha que começar a afunilar, e o seu desenrolar não me decepcionou.
Ninfomaníaca é uma dança muito bem orquestrada entre os conceitos do que é natural, do que é inato e do que é natureza -- não por acaso têm o mesmo radical, mas são passíveis de suscitar ideias distintas, quando aliadas à trama.
no 2º volume, o mundo fica maior: faz-se relação mais ampla de Joe com o ambiente, e de como a sua presença catalisa alguns comportamentos.
a nudez da protagonista como os seus sentimentos e com as suas vontades fez com que eu até me esquecesse da nudez literal. é uma história onde não há nada morno; tudo é extremo.
inocência e malícia correm de um personagem para o outro, sem se fixar em um ponto. a dicotomia original entre repressão e liberdade é tão esgarçada, que presenciamos liberdade repressora e repressão libertadora, inclusive.
em um determinado momento, após muito apanhar (não só da vida), Joe resolveu que precisava caber em alguma classificação social, que não podia continuar sendo o que era... e ela se enterrou em si mesma, tentando se compreender e se corrigir (ou se aceitar).
quando ela resolveu matar os seus instintos, o filme nos presenteia com uma das suas cenas mais poéticas, ao som do Réquiem de Mozart (que amo incondicionalmente!).
não preciso mais nem falar das atuações primorosas, mas não me furto de fazer loas às maravilhosas digressões, que ilustram, quase como parábolas bíblicas, a conversa entre Joe e Seligman.
em alguns momentos, o tom beirando o professoral que o filme assume acaba trazendo à tona o que estava, no mínimo, no inconsciente do expectador.
quem imagina que Ninfomaníaca se trata meramente de um pornô cult (isso existe?), precisa urgentemente rever os seus conceitos.
p.s. e a música que encerra o filme (assistam!) é perfeita: por seu texto, por sua história e pela sua pertinência com a protagonista.
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